sexta-feira, abril 27

"Always look on the bright side of life"

Sexta-feira (ou devo ser pedante e falar que é sabado?) à noite e, depois de um litro e meio de cerveja, todas as questoes da vida se tornam nao só mais fáceis de ser discutidas, como também mais claras. Ou nao. Há certas coisas que, nao importa o quanto sejam pensadas e repensadas, nunca terao exatamente uma solucao, um esclarecimento.

Sao assim os ditos "assuntos do coracao". Nada como algumas cervejas e horas no telefone com uma super amiga para despertar certos assuntos escondidos. Passando por memórias dos tempos de escola, Friends (embora eu ache que desta vez nós nao tenhamos chegado aos comentários sobre séries) e outras coisas de menos importância, eis que chegamos à parte afetiva da vida.

O álcool entorpece, isso é verdade. Nao só a boca fica extremamente articulada: o cérebro nao parece exatamente captar a distincao entre o que deve e nao deve ser dito. Tudo bem, as coisas ficam entre amigos. O difícil é saber que você finalmente admitiu pra você mesma certas coisas. De repente você percebe que se tornou exatamente a pessoa da qual sempre debochou. De repente você é um ser digno de pena. Ou alguém medíocre. Ok, ainda nao me considero medíocre, mas inegavelmente já reconheci que nao sou a mesma pessoa, aquela que leva o orgulho às ultimas conseqüências.

Lembramos de coisas passadas, nao há tanto tempo, é verdade, mas ainda ainda assim passadas. Terao aqueles momentos pertencido única e exclusivamente àquela época? Será aquele um tempo que nunca voltará? But, hey, "always look on the bright side of life"!

Eu tento seguir a filosofia do Monty Python, trilha sonora desta conversa. Se for assim, devo pensar que pelo menos mudei algo, que já nao sou tao orgulhosa à ponto de me declarar independente de qualquer pessoa ou sentimento. Mas eu olho para outro lado bom da vida: pelo menos eu passei por tudo isso.

Um filme bonitinho europeu

Sabe aquela sensacao de estar num filme?

Desta vez nao foi nada ruim, nada que parecesse um pesadelo, algo irreal do qual eu quisesse fugir. Apesar de ter acabado de passar por uma situacao nada agradável (a perda do passaporte ainda nao está totalmente resolvida: preciso de outro visto), de ter gasto 70 euros muito inesperadamente, de ter ido pela primeira vez na vida à Polícia (e ter que explicar toda a situacao em alemao, à autoridades alemas - e portanto nao exatamente pacientes e gentis), de ter corrido o dia inteiro na inseguranca de que tudo fosse em vao... Apesar disso tudo, caminhar pelas ruas e jardins de Munique num dia de semana normal, durante o dia e sob o sol da primavera, por um breve momento sentindo que eu nao tinha nada nem ninguém pra me controlar, foi, sem dúvida, uma cena digna de um final de filme.

Na verdade andar de um lado pro outro pela cidade foi até legal, passei por partes que nunca tinha visto antes. Comecei a gostar de Munique. Mas esse é também o efeito de se ver coisas novas, ou melhor, gente nova. Passando pelo Studentenviertel a atmosfera muda completamente. As ruas sao cheias de livrarias, a maioria pequenas lojinhas com livros usados colocados na calcada. Os estudantes passam, seja à pé, carregando mochila e com o ar despreocupado de quem sai de uma aula e vai correndo almocar, ou de bicicleta, seja a de estilo esportivo ou retrô (cestinha e meninas de saia e óculos, bem como os acessórios de crochê). Na frente de um dos prédios da Universidade vários grupos sentados ou deitados na grama... Outros entram no ônibus e preferem fazer a pausa no Englischer Garten.

Eu me lembrei de como é ser estudante. Nós só temos preocupacoes egoístas como notas, pegar primeiro o livro na biblioteca, descansar merecidamente após dois horários seguidos de aula. Ou salvar o mundo. Todos os dias rotineiramente vivemos coisas diferentes. Discutimos sobre o futuro. Tudo é nao só possível, mas altamente provável.

E na volta, caminhando até a casa, eu aproveitava esses momentos únicos de sensacao de infinita liberdade, com fones de ouvido que cantavam

"I love the sound of you walking away, you walking away
Why don't you walk away?..."

É ou nao é cena de filme?

Ao som de Franz Ferdinand - "Walk Away"

terça-feira, abril 24

A burocratizacao do meu vício

Acho que nao é de desconhecimento de ninguém meu amor pelo CouchSurfing. Eu sempre me empolgo com as viagens nao pelo fato de estar indo à um lugar diferente, mas pela perspectiva de conhecer gente nova. E o CS é exatamente isso.

Como sou o que pode ser considerado uma "addicted", acabei planejando minha ida à Viena no último fim de semana baseada num CS Meeting. Afinal de contas, nada melhor do que encontrar vários couchsurfers de uma vez, certo? E assim fui eu, pela primeira vez sozinha, rumo à capital austríaca.

Nao é intensao minha fazer relato sobre a viagem nem sobre a cidade. Desta vez o assunto é exatamente a comunidade de CSers e a minha posicao nesse meio. Primeiramente, percebi que ainda sou difícil de falar abertamente, especialmente depois que perdi minhas habilidades no inglês. Segundo (e mais importante), estou um pouco decepcionada.

A idéia do CS (assim como do Hospitality Club) sempre me foi muito querida. Nao por poupar dinheiro (claro, isso também ajuda), mas principalmente por poder conversar com as pessoas, que geralmente sao realmente abertas, engracadas, espontâneas e de modo geral muito interessantes. Mas incrivelmente a coisa tem seguido o caminho weberiano (meu deus, nunca pensei que fosse falar sobre isso! Ainda mais depois de tanto tempo sem ler essas coisas!): parece algum tipo de piada, mas o que ficou absolutamente claro é que o CouchSurfing está se burocratizando!

Eu mal podia me conter ao ver o "respeito" que as pessoas demonstravam aos que tinham títulos de Ambassadors (City Ambassador, Country Ambassador... Até mesmo um Nomadic Ambassador). Tempo de associado, referências e títulos fazem alguém melhor ou pior host do que outros? O mais engracado, é que existem pessoas realmente "famosas" nesse meio. Eu ouvi discussoes sobre atitudes de pessoas que eles mesmos nunca tinham conhecido, ou, se tinham, nao por mais de um ou dois dias! Claro, isso nao quer dizer que pessoas "inexperientes" ou "novatas" sejam simplesmente ignoradas. Isso nao é verdade, eu fui muito bem recebida. Sempre. Mas é inegável que se torna cada vez mais difícil afirmar que essa comunidade formada por pessoas que simplesmente abrem sua casa ou que saem pra conhecer outras casas seja exatamente igualitária. Há um certo de tipo de separacao entre os ridiculamente chamados como pertencentes à "old school".

Bem, talvez isso tenha sido apenas um desabafo meu, frustrada depois de ter sido chamada de "super quiet" por uma das pessoas presentes. Mas eu ainda acredito e gosto da idéia, e por isso vou continuar tentando e investindo meu tempo nisso.

Aliás, todos sabem que eu sou uma fanática. Nao importa por quanto tempo, quando eu comeco a gostar de algo, a coisa vira definitivamente um vício. No momento o meu tem sido acessar ambos os sites e tentar promover a idéia assim que estiver de volta em casa. Entao: será que vocês podem se cadastrar? =P

segunda-feira, abril 23

Do dia 20 de abril de 2007

Embora os últimos posts tenham sido sempre de meditacoes profundas, eles têm batido sempre na mesma tecla. Olhando agora o que escrevi (e olha que estou escrevendo este texto no mesmo dia do post anterior - 20 de abril de 2007 - e só estou postando agora porque queria deixar um espaco entre um e outro) das últimas vezes, me veio o seguinte pensamento: eu estou me tornando uma pseudo-intelectual! Pior: DE NOVO! Eu nao acho que o que disse é chato, que nao é o que eu realmente penso. Mas é que é chato entrar num blog que só tem lamúrias e nao é nem um pouco divertido. Cadê as empolgacoes? Afinal de contas, a vida nao é feita somente de pensamentos complexos sobre sentimentos, emocoes, perguntas do tipo "o que sou? qual o sentido da vida?" e outras coisas do gênero. É por isso que agora decidi fazer um post completamente inútil (e eis que neste exato momento o telefone desta maldita casa toca. Duas vezes! A pessoa insiste, mas apesar de ser 15:01h, nao estou com vontade de conversar em alemao. Três vezes agora. Parou.).

Mas o que é um post inútil pra mim agora? Qual tema eu deveria abordar? É aí que eu paro. Simplesmente me descobri, olhando pra esse Bloco de Notas, que minha criatividade, meu senso de humor e meu lado Lorelai Gilmore de ser (isso foi um pouco pretensioso) simplesmente desapareceram! Eu nao sou mais capaz de fazer uma simples lista, de continuar construindo incansavelmente os Top 5 (inspirada em High Fidelity)! O que terá acontecido? (Hum, quase escrevo "O que terá acontecido à Baby Jane?". Dedos digitantes contidos à tempo.)

Estou neste exato momento pensando em todos os assuntos que poderiam ser abordados de forma cômica. O assunto na precisa necessariamente ser engracado, mas com o dom do humor negro tudo se tranforma. Enfim, acho que essa coisa tá ficanco complicada de entender.

Vou tentar, mais uma vez, criar meu "Caderno Alemanha". Acreditem ou nao, ele na verdade existe. Bem, existe de certa forma: fisicamente ele está lá, um caderno com anotacoes aleatórias (estudos de gramática, um projeto de diário, planos de viagens, cálculos de dinheiro, tabelas de horários de trens, avioes e ônibus) que vê uma caneta de vez em quando (os intervalos de tempo sao irregulares também). Eu tento, eu tento. Fico querendo fazer isso porque várias vezes penso em várias coisas e simplesmente depois nao consigo me lembrar em como cheguei àquela conclusao, quando chego à alguma. Nao consigo me lembrar como cheguei à conclusao de que nao há conclusao. (Seria essa última frase um plágio de Sócrates?)

Mas por que diabos citei o maldito caderno? Ah, sim, li o parágrafo acima...: temas para posts neste blog. A conclusao (que bom, cheguei a uma!) é que vou tentar escrever, mesmo em anotacoes rápidas e provavelmente ininteligíveis à olhos estranhos, todas as coisas que gerarem algum tipo de pensamento (coerente ou nao), qualquer coisa que, por um momento da minha vida, se torne um assunto discutido silenciosamente entre eu, eu mesma e Irene. Ops, nao! Isso é com o Jim Carrey! Somente entre eu e eu mesma, porque também nao posso pensar com meus botoes, já que nem todas as minhas roupas os têm.

E assim encerro.

sexta-feira, abril 20

Antes da tempestade

Este é o último dia da minha vida "normal". Digo isso porque há tempos (mais ou menos 2 meses) venho pensando sobre os próximos acontecimentos, e eis que chega o dia em que tudo comeca. Quem lê isso assim do nada até acha que uma nova era está sendo inaugurada, mas o ponto aqui é, mais uma vez, o tempo.

Os últimos quase dois meses, apesar de nao terem exatamente se arrastado, tampouco passaram naquela velocidade que me surpreendia na minha "Época de Ouro" por aqui. Na verdade, os planos eram escassos e longínquos (essa palavra me faz lembrar do meu pai contando as histórias diárias - e nunca repetidas - no caminho pra escola quando eu tinha 6 aninhos de idade...!), razao pra mim suficiente pra me ver afundada no cotidiano da vida banal dos outros. Preenchi esse tempo vendo filmes, séries (sim, era como se eu tivesse uma TV!) e acompanhando de perto (apesar da distância) tudo sobre a "minha" vida na terrinha que eu deixei.

No entanto, ainda haviam planos.

Viajar nao é somente uma obrigacao pelo fato de conhecer lugares com os quais sonhamos. Nao é pra ver monumentos mundialmente famosos. Nao é pra poder falar que já se foi lá. Pra mim, é uma questao de sobrevivência. Parece dramático, mas nao é. Bem, talvez seja, sim. Mas o fato é que viajar nao ocupa somente aquele espaco de tempo em que se está fisicamente no lugar: muito mais do que isso, se viaja antes mesmo de ter chegado e depois de ter retornado. Mas nada se compara à alegria de planejar. Nao que eu seja a favor de tracar cada passo a ser percorrido, nao, nao... Eu sou do tipo que gosta de andar pelas ruas da cidade sem compromisso e sentir a atmosfera, sentar numa praca pra ler ou ouvir música, subir em montanhas pra ter aquela vista linda (nada do traco típico de historiadora que eu deveria ter: museus absolutamente sao sem graca). O planejar que falo é apenas o pensar que em breve algo novo vai acontecer.

Esta noite pego meu trem pra Viena. Apenas dois dias na capital da música, na cidade do Danúbio Azul de Strauß, dos mestres Mozart e Beethoven, da dinastia dos Habsburgs, da Imperatriz Sissi (ou Romy Schneider?), dos bailes, dos jardins, da ópera. Ok, ok, eu admito que a essa altura do campeonato eu já li alguma coisa sobre a cidade. Bem, e afinal de contas minha Gastmutter é Vienense, nao tem como nao ouvir maravilhas sobre o lugar de vez em quando. Mas o ponto é que é a partir de hoje que o intervalo entre um acontecimento e outro na minha vida se tornam bem curtos.

Logo no comeco de maio já há outra "acao", desta vez bem longa (os 16 dias na Grécia, que estao me fazendo descabelar com a idéia de simplesmente ficar sem dinheiro no meio da viagem). Chegando junho há a clássica visita à Paris. E depois? Bem, depois falta um mês pra voltar pra casa! E isso porque ainda nao há mais coisas inteiramente certas, porque pode ser que uma ou duas viagens ainda sejam expremidas por aí. Passa rápido. Passa mais rápido quando se tem tanto a fazer, quando se está sempre pensando que daqui a pouco algo nunca ocorrido na vida vai acontecer.

Hoje é meu último dia normal. A partir daqui é tudo um furacao: um furacao que eu mal posso esperar pra ver...!

quarta-feira, abril 18

Sobre tudo e nada

Hoje é um daqueles dias estranhos: tudo e nada acontece, a cabeca gira com um incontável número de pensamentos e opinioes que mudam num milésimo de segundo, uma vontade de fazer todas as coisas do mundo, mas ao mesmo tempo de ficar quieta e desligar.

O tempo passa rápido e devagar...

Agora comeco a pensar neste ano, nessa vida totalmente diferente que eu escolhi viver durante 12 meses. Há momentos de incrível solidao, e eles nao sao raros. Há momentos em que inevitavelmente se pensa: "o que estou fazendo aqui?". Outros sao de recordacoes. Outros de raiva. Várias vezes sinto que nunca estive tao presa; em outros nunca tao livre. Tem hora que tudo o que se quer é encontrar alguns amigos pra conversar: umas vezes encontramos, outras nao. Em algum momento eu me pergunto como posso ser amiga de pessoas que conheco há tao pouco tempo... Mas o tempo é relativo, certo?

Estar num lugar diferente, com pessoas diferentes, significa basicamente uma coisa: você pode ser o que você quiser. Nao posso dizer que me soltei de tudo, que uma operacao mágica se realizou em mim e que, de repente, todas as barreiras que me impediam de ser verdadeiramente eu caíram. Isso seria mesmo impossível, afinal de contas, o "verdadeiro eu" é uma coisa desconhecida. Na verdade o que aconteceu é que, neste tempo todo, eu pude me entender melhor e, dessa forma, agir com mais conviccao, com mais firmeza e sem medo de dizer o que penso. Melhor: sem medo de mostrar que penso e despenso.

Claro, nao é o confinamento absoluto que faz isso. Conversar com pessoas dos mais variados lugares, culturas, idéias, classes... Nao é apenas a diversao de ver todos os dias alguém diferente, é a de se ver diferente também. Cada um traz um tema, é de um modo. E, ao falar com essas pessoas, automaticamente eu descubro mais alguma coisa sobre mim mesma, coisas sobre as quais talvez antes eu sequer tenha pensado.

Conclusao? Nenhuma.